segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Olhar Através das Janelas de Neuza

Assim me senti nesse processo, uma menina, que observa atrás de uma janela bonita com cortinas vermelhas e babados delicados.

Eu acho que é a janela da sala... não, será do quarto?  Mas quanta intimidade, só pode ser a do banheiro. A voz de dentro diz,  “Não bobinha, é a janela da alma.”

“Menina sai dai...é feio ficar olhando”.

Mas a janela está aberta.  “Então feche agora”.  Não posso. Ela é tão mulher e eu tão menina.

Quero entrar no seu mundo. Conhecer mais sobre ela. Seu Olhar é tão meu.
Será que posso falar com ela? Com elas? Tenho tantas duvidas....

Será que você  pode me  ensinar a ser mulher? Quero saber... Como se sente com o amor? Como se nutre o coração? Como se conecta com Deus? Quero saber... Como entender a solidão? Como me entrego ao amor? Como chego no meu interior?  Como florescer? Como caminhar? Como paro de chorar?

Queria contar tantas coisas...
Sabe que tenho um pequeno bote?  Mas não sei navegar... O mar é grande e eu acho que não sei nadar, tenho medo das ondas gigantes e das  tempestades  que possam vir.  Me ensina a ser mulher? Quer ser minha amiga? Vamos navegar? 

Na minha ingenuidade achei que ela, por ser mulher, por ser madura, não teria tantas duvidas como as minhas, achava que de alguma forma quando chegasse lá, na maturidade, já saberia o caminho, já teria as respostas para as minhas inquietações, não teria duvidas. Mera ilusão.
Assim com meus 22 anos, olhar ainda de menina querendo ser mulher  iniciei minha viajem. Elas me permitiram navegar, navegar daquela janela bonita, com cortinas vermelhas e babados delicados.

Sai da poesia...

Logo de inicio, recebi uma importante função no processo de construção do espetáculo ‘’ O Olhar de Neuza’’. A  assistente do assistente de direção.  Não tão importante para o trabalho, mas muito mais importante para mim. Nesse processo estive como aprendiz, olhar, observar e simplesmente estar presente e tentar aprender um pouco com a maestria de toda a equipe. Muito mais aprendi do que contribui.  

Iniciamos o processo com algumas reuniões e discussões sobre a mulher de meia idade. Uma idade que de inicio parecia tão distante de mim.

Que mulher é essa? quem é a Neuza? Quem é Fabiana? Quem é essa mulher que cai? 
 “ uma grande solidão eu sou, sou a mulher que dividiu em sílabas a palavra solidão e com elas aprofundou seu caminho na escuridão”. A  Mulher que  Cai  de Guido Viaro.

A MULHER CAI!

Nas mãos do abração. E num misto de Fabianas, neuzas, karlas, roses, leticias e mulheres que caem, já caíram ou permanecem em uma constante queda fomos encontrando a Neuza e junto com a Neuza encontrando a Fabiana, que desabrochou em si uma linda rosa vermelha.  

Volta à poesia

Lá estava eu, observando atrás da janela bonita com cortinas vermelhas e babados delicados.

A observava , com  olhar tão triste e solitário, ela olha além das gotas de chuva  escorridas pela janela.  Seria isso a solidão? E eu sem querer sinto pena como uma dor no corpo e um aperto angustiante. Será minha a solidão?

"Nada" ela me diz em meio à escuridão.  “Eu não tenho nada”.

Nada? (Soou como um sino dentro de mim)

Mergulho no  vazio.

Quer entrar no meu vazio?

No meu?

Sai da poesia

Passamos nossa vida tentando preenchê-lo. Botox, plásticas, peitos, remédios, futilidades, parecer ser o que não somos, impressionar o outro, posses, mentiras...
O vazio fica tão cheio que não sobre nem nós mesmos.  O essencial.
Mesmo estando carregados e entulhados de coisas, não temos nada. 
De alguma maneira a Neuza veio reencontrar esse vazio dentro de mim.
Ele tem se apresentado de maneiras distintas em cada processo que me entrego.
        
No Trenzinho do Caipira  ele surge representado pelo meu vagão.  No Banho ela retorna como meu  almocharifadinho,  e no Olhar de  Neuza se apresenta como meu conjunto Vazio o nada.
         
Acho que é minha eterna busca, retornar ao conjunto vazio. Hora preenchê-lo, ora esvazia-lo, mas sempre retornar a ele.  

O OLHAR 
Alguém me disse que os olhos são o espelho da alma, o nosso olhar deve ser o reflexo da nossa alma sendo transmitido através dos nossos olhos, ou é a nossa própria alma.
       
Quero eu ter esse olhar que reflete a minha alma e transborda o meu eu, quero eu ter esse olhar que  transmite vida, quero eu ter esse olhar que adocica o mundo, quero eu ter esse olhar que vê, escuta e sente. Qual seria o meu olhar?  Um pouco cego e adormecido? Talvez.
Inspiramos o nosso espetáculo em um Olhar, no Olhar da Neusa, que olha o mundo com poesia.
Obrigada por esse Olhar.           
Volta à poesia
Ela volta para perto da janela, me conta sobre suas angustias e os primeiro calorões. Verão de 2012. A Menopausa.  

Calma Neuza, não há o que temer. É uma transformação natural, como o verão que segue a primavera e o fruto que surge a partir da flor, que desabrocha, seca, morre e renasce. 
Sai da poesia

por que esses  padrões inúteis? Que fazem da mulher um objeto modelável que deve servir para reproduzir algo e quando não podem mais produzir são jogadas fora. Por que esses padrões inúteis? Beleza, imagem, sexo,sexo. Um dia o sexo acaba! Faço parte disso? Desse padrão medíocre? Não, não quero. Neuza vem me nutrir com seu olhar.
Volta à poesia
Ela quer sair, ter um encontro com ela mesma.
"Tentei fugir de mim, mas aonde eu ia eu estava".. Ela tinha decidido parar de fugir e se encontrar de verdade. Quando eu vou fazer isso? Agora? ou no eterno amanha...

Gostaria de compartilhar uma musica, que para mim traz um pouco do processo da Neuza e da Fabiana e talvez ou pouquinho do meu.
“Hoje eu vou mudar
Vasculhar minhas gavetas
Jogar fora sentimentos
E ressentimentos tolos.
Fazer limpeza no armário
Retirar traças e teias
E angústias da minha mente
Parar de sofrer
Por coisas tão pequeninas
Deixar de ser menina
Pra ser mulher!
Hoje eu vou mudar
Por na balança a coragem
Me entregar no que acredito
Pra ser o que sou sem medo.
Dançar e cantar por hábito
E não ter cantos escuros
Pra guardar os meus segredos
Parar de dizer:
"Não tenho tempo pra vida
Que grita dentro de mim
Me libertar!"
Hoje eu vou mudar
Sair de dentro de mim
E não usar somente o coração
Parar de cobrar os fracassos
Soltar os laços
E prender as amarras da razão!
Voar livre
Com todos os meus defeitos
Pra que eu possa libertar
Os meus direitos
E não cobrar dessa vida
Nem rumos e nem decisões!
Hoje eu preciso
e vou mudar
Dividir no tempo
E somar no vento
Todas as coisas
Que um dia sonhei
conquistar,
Porque sou mulher
Como qualquer uma
Com dúvidas e soluções
Com erros e acertos
Amor e desamor.
Suave como a gaivota
E ferina como a leoa
Tranqüila e pacificadora
Mas ao mesmo tempo
Irreverente e revolucionária!
Feliz e infeliz
Realista e sonhadora
Submissa por condição
Mas independente por opinião,
Porque sou mulher
Com todas as incoerências
Que fazem de nós
Um forte sexo fraco!
Hoje eu vou mudar
Vasculhar minhas gavetas
Jogar fora sentimentos
E ressentimentos tolos.
Fazer limpeza no armário
Retirar traças e teias
E angústias da minha mente
Parar de sofrer
Por coisas tão pequeninas
Deixar de ser menina
Pra ser mulher!
Eu vou mudar!
Eu vou mudar!


Eu vou mudar pra valer” . Vanusa.

Uma Semente (querendo ser flor)

Uma semente no abração eu sou. Sinto cada trabalho como  adubo e água que me fazem crescer, brotar e desabrochar, mas sinto também que preciso fazer essa semente crescer.   Sair da posição de menina e me tornar mulher. Recebo ferramentas de cada um, que podem me modificar pra melhor, uma melhor atriz , uma melhor professora , uma melhor produtora e um ser humano melhor. Mas sei que nem sempre utilizo essas ferramentas. Bom, acho que é hora de começar a usar. Sei que depende só de mim. Sei também  que falar é fácil difícil é fazer, mas quem sabe falando serve de estimulo para eu  fazer, praticar e estar mais pronta para utilizar as ferramentas no nosso dia-dia.
O Ritual

Esquentar a água para o chá, acender um incenso, esborrifar essência pelo abração, pingar as gotas de chuva no vidro, colocar a trilha sonora, receber o público.

Acende a vela,  Soam os sinos, ela traz com sigo aquela linda rosa vermelha. O ritual inicia com a voz doce daquele anjo, será ela sua alma? Ela fica ao seu lado o tempo todo, a observando, trazendo alento para ela e para mim, como sua guia ou guardiã.  Abrem-se as cortinas e a porta de vidro com algumas lagrimas escorridas, ela se afasta, silencia, mas permite a nossa entrada em seu interior.  Me mostra suas dores, me mostra as minhas,  me mostra seus conflitos, me mostra os meus, suas ilusões e as minhas, suas fraquezas e as minhas sua solidão e a minha. Seu vazio e o meu.  Me mostra que está perdida, mas afinal, quem não está?  

Neuza, Uma Velha Amiga.
Observei por de trás daquela  janela bonita com cortinas vermelhar e babados delicados.  Assim pude conhecer a Neuza. Acho que conhecendo a Neuza, pude conhecer um pouco mais de mim, dessa menina com anseio de ser mulher. Neuza para mim, é uma amiga, mulher, que nos momentos de solidão sei que  posso  abrir sua cortina vermelha com babados delicados e simplesmente estar com ela, com elas. Perceber a sua solidão que também é minha.
Não estou só, não estamos só.
Minha busca com o olhar de Neuza.... Desabrochar em mim, aquela linda rosa vermelha que desabrochou a Neuza.
Deixo aqui, minha gratidão a Neuza. A Neuza Leticia, a Neuza Fabiana, a Neuza Karla, a Neuza Simao, a Neuza Blas, a Neuza Joao, a Neuza Julia, a Neuza Anry  e a Neuza Rose. 


Um comentário:

  1. Kamila, pequena menina, grande mulher, me ensina a querer aprender, com toda essa doçura?! aproveita, e me ensina a adoçar meu amargor?! professora Kamila! Obrigada pelas doces palavras!!

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