quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O Olhar de "Fora"

É bem estranho escrever sobre o processo do "Olhar de Neuza", porque eu estive bem distante dele. Mas foi, no mínimo, interessante. Como eu só tinha acompanhado o processo de criação do "Dorminhoco", me surpreendi e muito, porque foi um processo BEM diferente. Pra começar que o primeiro ensaio que eu realmente ASSISTI foi acompanhando a Cris Conde, isso nós já tínhamos quase 1 mês de ensaios corridos e eu fiquei com a cara no chão porque a peça estava PRONTA. Lógico que alguns meses depois ele não estava idêntico, mas estava pronto, a dramaturgia a construção das cenas, músicas. Já era um trabalho redondo.

Assisti o ensaio de novo umas três semanas depois e foi ainda mais surpreendente, era a mesma peça, mas estava completamente diferente. Estava mais delicada, mais harmoniosa, mais forte. Foi completamente arrebatador, o sentido do espetáculo pra mim foi totalmente outro, acho que foi naquela hora que eu finalmente entendi a Neuza.

Quando os elementos foram chegando (Cenário, Figurino, Sonoplastia) parecia que já estava tudo lá antes. Lógico que ficou muito mais bonito e mais bem composto após a finalização, mas era como se o espetáculo sustentasse todos os elementos por si só. Os elementos só ganharam mais significado após serem finalizados. Mas o que eu preciso falar, é da luz, pra mim esse foi o momento crucial na finalização do espetáculo. Parecia que eu tinha me drogado, aquela luz vinha ao encontro de todos os sentidos que eu tinha antes, só deixavam eles mais fortes, e o mais incrível era o fato de termos duas arquibancadas em lados opostos, dava vontade de assistir o espetáculo de todos os ângulos possíveis. Cada lugar onde eu me sentava me dava uma imagem diferente, as vezes era apenas uma cadeira a mais para esquerda ou para a direita, e mesmo assim a fotografia era outra. Eu saía de todas as apresentações e falava pro Anry: "Compadre, arrasou hein".

E no meio disso tudo eu vou percebendo de pouco a pouco de que Neuza não é uma mulher de 49 anos que está na menopausa. Neuza é uma mulher de 20 anos. Neuza é um homem de 30 anos. Neuza pode ser uma criança. Neuza sou eu. Os questionamentos, a razão da existência, as aflições, são todas do ser humano. O melhor de tudo era conversar com pessoas de diferentes idades, sexos, classe sociais. Todos se enxergavam na Neuza. "O que eu fiz da minha vida?", "Valeu a pena?", "O que eu vou fazer de agora em diante?". E daí nós percebemos que somos todos putas do passeio público que vendem aquilo que lhes dá sentido por 20 reais. É aí que tentamos procurar a rosa vermelha e revalidar nossos caminhos.

E no fim disso tudo, eu contínuo refletindo sobre o que é ser "Pobre com dinheiro pra gastar"


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